Cotação: §§§
Livro: Coronado
Autor: Dennis Lehane
Editora: Companhia das Letras
197 páginas
Estou dando um tempo de romance. Na verdade estou lendo dois ao mesmo tempo, mas com bastante parcimônia, pois tenho trabalhado bastante. Em tempos de pressa, uma boa opção é um livro de contos. Para não fugir ao gênero, escolhi esse belo presente da Companhia das Letras aos leitores brasileiros, uma pérola não muito difundida do autor de ‘Sobre meninos e Lobos’ e ‘Gone, Baby, Gone’, que descobri por acaso, à cata de coisas mais curtas para ler. Não me arrependi. Ao todo são cinco contos e uma peça baseada no último – e melhor – deles.
O primeiro conto (Ficando sem cachorros) é um tanto longo, conta uma trama bem elaborada que renderia, tranquilamente, um bom romance. Muita psicologia, morte, final trágico inevitável. Mas não é dos meus preferidos.
No terceiro, na minha opinião o mais fraco, Lehane se dedica com afinco à tensão psicológica, investindo pesado numa realidade que parece conhecer bem, e é cada vez mais presente na literatura americana, um punhado cheio de desilusão social.
O Quarto, ‘Cogumelos’, é bem interessante. Como o primeiro, renderia um ótimo romance, mas ficou no conto. O forte dessa short storie são os cortes de tempo. Muito vai e vem, o que poderia (pra variar) terminar no cinema.
Vamos aos favoritos.
O segundo conto chama-se ‘UTI’. Trata-se do conto mais tenso do livro. A minha impressão é a de que o autor quis ‘brincar’ com paranoia e ilusão. Criou um belo personagem, bastante neurótico, que escolhe um local um tanto inusitado para escapar de uma perseguição que a princípio parece coisa da sua mente, e ao final se torna bastante real. Ou será o contrário. Leia!
Por fim, o espetacular ‘Até Gwen’. É perfeito em tudo. Nos cortes de tempo. Nos personagens complexos e bem construídos. Na trama bem elaborada. Na clareza que Lehane imprime na folha de papel arrancando o leitor de onde ele está e o lançando no meio do nada, entre vidas perdidas, mal resolvidas, que caminham para um final catastrófico. A vida como ela é.
O conto é tão bom e foi tão bem recebido, que Lehane cometeu o erro de querer transformá-lo em peça. Bom, mas como eu não sou a Bárbara Heliodora, prefiro me abster de comentá-la (ela está lá, fala por fala, cena por cena, no final do livro). Exceto o fato de que, na peça, ele explica o que no conto nem precisava explicar.
É uma boa compra. O livro, não o ingresso para a peça.
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