Boas vindas

Seja bem-vindo, caro leitor/escritor. Ler faz bem à saúde - física e mental. Sabendo disso, obrigo-me a tomar cavalares doses diárias de leitura. Como tudo que é exagerado faz mal, preciso eliminar parte desse remédio para manter meu organismo saudável. Não há pâncreas que produza qualquer enzima capaz de catalizar a leitura, ou fígado capaz de ajudar a excretar o excesso. O melhor tratamento, descobri, é escrever. Crimine Liber, portanto, tem a nobre e terapêutica missão de aliviar a pressão provocada pelas doses de leitura, além de fazer despejar aquilo que meu organismo absorveu de melhor ou pior dos livros que li, tenho lido ou vou ler. Espero que você aprecie!!!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dois irmãos



Dois irmãos


Cotação: §§§§§
Livro: Dois Irmãos
Autor: Milton Hatoum
Editora: Companhia das Letras

266 páginas
 
Dois Irmãos é um daqueles livros que te dá orgulho de saber ler; faz você agradecer eternamente a ‘tia’ do CA pelos ensinamentos da alfabetização. Publicado em 2000 e laureado com o Jabuti, é considerado por muitos o melhor romance da década passada, o que não é exagero.
Somos – muitos de nós – movidos por informações valiosas a respeito daquilo a que pretendemos nos entregar. O consumo, as amizades, o emprego, até mesmo o amor, quase sempre dependem de informações positivas acerca daquilo que pretendemos ‘possuir’. Com a leitura não é diferente. Daí que, quando comecei a ler comentários elogiosos sobre ‘Dois irmãos’ fiquei com uma vontade incrível de ler o livro, mas não li; estava em outra onda.
Passaram muitos anos até que voltei a ler a seu respeito em colunas e blogs, já não mais falando de um grande livro, mas sim a respeito do livro da década. Não resisti e me entreguei, para minha própria sorte.
O livro trata da saga de uma família de imigrantes libaneses que começa a fincar raízes no Brasil, precisamente em Manaus (terra natal do autor), e esse é o primeiro ponto interessante: o autor trata com precisão o choque cultural que forja a identidade familiar a partir das muitas experiências vividas por um jovem caixeiro libanês e uma jovem filha de comerciante que se apaixonam vorazmente.
Desse amor imenso se espera tudo de melhor, a partir de uma entrega comovente dos amantes. No entanto, o que seria uma consequência natural da sua união – os filhos – se torna a grande marca divisora de sua paixão, começando pela relutância do jovem caixeiro em ter filhos.
O nascimento dos primeiros filhos – gêmeos – é o ponto de virada de uma história, que poderia levar o nome do pai, o nome da mãe, o nome dos filhos, da filha, do narrador, ou sua mãe (uma cunhatã que presta serviços à família), dada a profundidade da investigação sobre a família, em que cada um dos personagens é examinado à exaustão, expondo suas motivações, expectativas, personalidades, vivências...
O duelo épico e eterno entre os gêmeos que se odeiam – assaltando Nelson Rodrigues: desde quarenta minutos antes de serem concebidos -, porém, marca tão decisivamente essa família ao mesmo tempo atípica e comum, que a escolha do nome é perfeita.
No tom quase documental-biográfico da obra não há certo ou errado, não há julgamento de valor, preferências (exceto a do narrador, mas esse também é um personagem), apenas uma exposição de fatos e motivos que vão se sucedendo e explicam a cada novo parágrafo o ódio recíproco dos irmãos.
Daí que a família vai atravessando meio século esfarelando o que havia de bonito no amor primordial dos pais para chegar ao final sem uma única sobra do que havia antes. Tudo visto sob a perspectiva de uma criança que, ao final já é um adulto em busca da verdade sobre si mesmo, sua própria identidade.
Personagens como Halim (o pai), Rânia (a irmã) e Domingas (a cunhatã) tentam roubar a cena (são perfeitos!), que ao final fica mesmo com os gêmeos Yaqub e Omar e suas diferenças essenciais. O primeiro introspectivo e renegado, o segundo mimado e impulsivo, de personalidades opostas e confrontantes que levam ao limite máximo o ódio com que presenteiam o outro.
Se é o melhor livro da década passada, não sou capacitado para responder. Mas, certamente, é dos melhores livros que li nas últimas três décadas, desde que aprendi a ler com a tia... como é mesmo o nome dela? A ingratidão é imperdoável.



2 comentários:

  1. conheci o M. Hatoum na faculdade, porque uma de minhas professoras era grande admiradora de sua obra, também sou, também acho ele um dos grandes da atualidade. Ouvi dizer que "Dois Irmãos" vai ter uma adaptação para o cinema, estou super curiosa!

    Um beijo
    Francine Ramos

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  2. Francine,

    Ainda não tinha ouvido falar sobre a adaptação, mas a partir de agora somos dois curiosos.

    Abraço,

    Fernando.

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