Boas vindas

Seja bem-vindo, caro leitor/escritor. Ler faz bem à saúde - física e mental. Sabendo disso, obrigo-me a tomar cavalares doses diárias de leitura. Como tudo que é exagerado faz mal, preciso eliminar parte desse remédio para manter meu organismo saudável. Não há pâncreas que produza qualquer enzima capaz de catalizar a leitura, ou fígado capaz de ajudar a excretar o excesso. O melhor tratamento, descobri, é escrever. Crimine Liber, portanto, tem a nobre e terapêutica missão de aliviar a pressão provocada pelas doses de leitura, além de fazer despejar aquilo que meu organismo absorveu de melhor ou pior dos livros que li, tenho lido ou vou ler. Espero que você aprecie!!!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Lado B - Histórias de mulheres




Cotação: §§§§
Livro: Lado B - Histórias de mulheres
Autor: Lúcia Facco
Editora: Edições GLS

98 páginas
 

Você já leu algum livro de temática gay? Não? Então deixe o preconceito de lado e comece por esse delicioso livro de contos. São doze pequenas histórias das quais se pode dizer, no mínimo, agradáveis. Um álbum com ‘fotografias’ quase comuns e, por isso, belas do cotidiano de mulheres homossexuais.

Não é panfletário, 'catequizador' ou cômico, embora suas personagens em alguns momentos possam ser. Não se busca nas narrações nada além de mostrar a normalidade evidente de um ‘comportamento’ tão contestado (ainda?!?!), quanto antigo.

E vai-se passeando por vidas comuns com boas histórias, e algumas tão comuns que a ‘opção’ sexual torna-se irrelevante (são pessoas como você, vivendo histórias que você poderia viver). Certo, em alguns casos a sexualidade é a pedra fundamental sobre a qual se constrói uma grande casa. Mas em outros, não. Essa é a maior qualidade do livro, Lúcia Facco conseguiu conceber contos (que não gostaria de rotular como literatura lésbica, mas de fato é) com uma naturalidade de quem viveu os conflitos, o preconceito, a estranheza alheia, e vive a normalidade, os desafios, as barreiras de um homossexual no moderno-atrasado mundo contemporâneo.

Dessas bonitas ‘Histórias de mulheres’ extrai o que mais importa que é a vida por ela mesma, seja você hetero ou homo, e suas dúvidas, aventuras, segredos, recompensas, amores, desilusões, sucessos, decepções.

De todos os doze contos alguns sobressaem como merecedores de vivas; aplausos empolgados. Natureza Viva é um deles.

O conto, que eu classificaria (porque classificar alguma coisa?) como realismo fantástico, é dos melhores contos que li ultimamente, se não o melhor. Nele, o homossexualismo é um fio que surge de uma experiência visual interessante e puxa toda a falsa impressão de normalidade na vida da protagonista que até então se pensa heterossexual. O clima é um tanto sombrio e a tensão é crescente, até o final revelador e não menos fantástico que toda a ilusão (será?) vivida por Raquel. É suspense em essência, se você compreender por suspense algo que te deixa à espera, em suspenso, por um tempo, até te derrubar.

Outra história digna de prêmio é ‘De mel de melão’. Curtinho, por isso uma resenha detalhada seria um belo spoiler. O que posso dizer é que se trata de uma narrativa comovente, que mexe muito com o leitor armado, preparado para encontrar nesse livro algo que imagina deslocado, fora da rota comum. É um soco no estômago do conceito pré-elaborado. Lindíssimo e emocionante, choca (pelo menos a mim) não pela história que, garanto, todos conhecemos (não por ouvir falar), mas por fazer notar que por mais escondido que seja o preconceito está sempre ali, como um vírus em quarentena para aflorar quando menos se espera, já que o final é diametralmente oposto àquilo que se imagina e revela a nós mesmos (leitores) quem realmente somos.

Por último (apenas para não alongar a resenha), tem ‘Diário’. Conto que integrou o premiado livro ‘Todos os sentidos: contos eróticos de mulheres’ (Prêmio Alejandro J. Cabassa da União Brasileira de Escritores como melhor livro de contos de 2004). Notável ao narrar a história de uma mulher viúva, mãe de família, com uma vida estabilizada que aos poucos se descobre homossexual e, partir daí, começa a narrar suas aventuras (reais ou ilusórias você deverá descobrir) em um diário, e que aventuras! Tem o tom mais ficcional que biográfico e, na minha opinião, daria um excelente filme de Almodóvar.

Outros bons contos que poderiam ser aqui resenhados são ‘Chuva’, ‘Triângulo’, ‘Vida’, ‘Ausência’, enfim, qualquer um deles, que são todos muito atraentes em suas diferenças.

Aconselho a todos que conheço a ler o agradável ‘Lado B – Histórias de mulheres’, sem medo, afinal homossexualismo não é uma doença, não é contagioso, é comum, é normal, ou então se conforme em perder uma grande leitura somente porque você é um(a) fresquinho (a).

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