Boas vindas

Seja bem-vindo, caro leitor/escritor. Ler faz bem à saúde - física e mental. Sabendo disso, obrigo-me a tomar cavalares doses diárias de leitura. Como tudo que é exagerado faz mal, preciso eliminar parte desse remédio para manter meu organismo saudável. Não há pâncreas que produza qualquer enzima capaz de catalizar a leitura, ou fígado capaz de ajudar a excretar o excesso. O melhor tratamento, descobri, é escrever. Crimine Liber, portanto, tem a nobre e terapêutica missão de aliviar a pressão provocada pelas doses de leitura, além de fazer despejar aquilo que meu organismo absorveu de melhor ou pior dos livros que li, tenho lido ou vou ler. Espero que você aprecie!!!

sábado, 14 de maio de 2011



Cotação: §§§
Livro: A Guimba
Autor: Will Self
Editora: Alfaguara

331 páginas

Assim como ‘Precisamos falar sobre o Kevin’, comprei esse bom livro pela capa, que faz coçar os mais recônditos bronquíolos dos chatíssimos politicamente corretos. Aliás, antes de falar sobre o livro, quero destacar a esplendorosa edição, capa instigante de alta qualidade, páginas claras com tipagem agradável que facilita a leitura, tradução muito competente de Cássio de Arantes Leite.
Feitas as considerações iniciais, assim como ‘Precisamos falar sobre o Kevin’, não me arrependi da escolha. Não se trata de um romance policial, mas a trama parte de um crime (crime?). Um cidadão anglo, em visita a um país de proporções continentais, antiga colônia de sua nação, decide que já é hora de parar de fumar. Antes, porém, acende seu último cigarro aproveitando aquele prazer prosaico até a última tragada. Quando termina vai até a sacada do seu quarto de hotel e arremessa a guimba que cai acidentalmente no apartamento de baixo, atingindo a cabeça de um senhor de idade avançada. Pronto. O ato, aparentemente irrelevante, dá início a uma odisséia épica inacreditável.
O tabagismo sofre restrições graves no país e até mesmo o ato de fumar em local privado é vedado. Arremessar a guimba imprudentemente contra uma pessoa, então, é crime grave. E o sujeito, chamado Tom Brodzinski, é acusado de tentativa de homicídio e submetido aos rigores da Lei local. Com o tempo percebe-se que os motivos reais que levaram o atrapalhado gringo ao banco dos réus são muito mais relevantes do que se supunha.
O livro lembra muito ‘O Estrangeiro’ de Camus, escola nitidamente seguida pelo autor inglês que se lastreia numa história de absurdos e numa aventura fantástica em que o protagonista deve percorrer todo o país para expiar sua culpa por meio de um acordo judicial bastante suspeito.
Os personagens são soberbamente elaborados e o leitor se pergunta várias vezes não se aquele amontoado situações esdrúxulas são verossímeis, e sim como tudo aquilo pode ter surgido na cabeça do escritor.
A nota negativa fica por conta da longa narrativa (na minha opinião a epopéia poderia ser mais enxuta), que não compromete, no entanto, a qualidade do texto. A leitura é uma viagem longa, como aquelas que você fazia com seus pais quando era criança e insistia em perguntar se já estavam chegando. Mas a recompensa ao final é a mesma da chegada à casa de praia, com a vantagem de que você vai repensar seriamente o (mau) hábito do fumo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário