Hoje quero desviar o foco. Não vou comentar nenhum livro, sim uma coluna que li ainda agora, no blog da Companhia das Letras. A coluna é escrita mensalmente pelo jornalista e escritor gaúcho Michel Laub. E é uma pérola. O link está no final do texto.
A verdade é que terminei de ler o último romance de Michel: ‘O diário da queda’, recentemente lançado pela CL, e minha vontade era (ainda é) resenhá-lo. Motivos pessoais, contudo, me tomam tempo capaz de impedir que me dedique à resenha no momento.
Tenho a sorte de compartilhar a amizade de Michel Laub (ainda que virtual) em um desses milhares de sites de relacionamento e, apesar de não conhecê-lo pessoalmente, posso afirmar que é um sujeito simpático, atencioso, além de um escritor raro. A coluna que me motivou a escrever agora discorre sobre ‘crítica literária’ e por esse motivo, resolvi me empenhar em comentá-la.
A proliferação de blogs dos mais variados temas abriu espaço para qualquer pessoa escrever o que pensa, sobre o que desejar, no momento em que desejar, franqueado suas ideias, sentimentos, pensamentos, expondo seu cotidiano, suas relações, sua formação, e também criticando ideias, sentimentos, pensamentos, cotidianos, relações e formações alheias, manifestações artísticas, culturais, políticas, as mais variadas. É uma corredeira que se inicia e encerra no mesmo ponto, por assim dizer: Eu escrevo um texto, publico, divulgo, outros lêem, resenham, criticam, para que outras pessoas leiam, critiquem, indiquem, para que eu volte a escrever novos textos que serão, lidos, relidos, criticados. Uma enxurrada sem freio. Nessa enxurrada me insiro até com algum atraso. Faz pouco tempo comecei a escrever através de blogs.
Se há um lado positivo, esse pode ser sintetizado pela possibilidade quase gratuita de expor sua criação ou suas ideias (sejam elas quais forem) a um número indefinido de pessoas, dependendo exclusivamente de sua rede de amigos, do interesse pela área a que se dedica, do alcance de suas palavras, etc.
Há, também, um lado negativo. Escreve-se, muitas vezes, sem critério, por amizade, por vaidade (talvez o ponto central da coluna escrita por Michel), necessidade de ser ouvido, necessidade de demonstrar capacidade intelectual, e por aí vai, o que termina por aniquilar o que a crítica possui de mais útil: Ajudar não apenas consumidores de cultura a optar por uma manifestação artística específica, mas a construir uma obra sólida, fortalecer a carreira de um artista (e aqui não falo de louros gratuitos, uma vez que criticas severas podem muitas vezes orientar um escritor, pintor ou compositor, ao passo que elogios banais podem ser a última pá de cal sobre sua obra), ampliar o alcance de uma obra.
Acredito que compreendi a mensagem do escritor, e como venho praticando o exercício da crítica há alguns meses, a li com olhos de aluno. A crítica não deve ser aplicada como instrumento de auto-engrandecimento, jamais deve ser uma tentativa grotesca de demonstração de cultura, um arroto de vaidade. A crítica é, antes de tudo, um ingrediente que se soma à manifestação artística a que pretende aclarar. Um meio de somar forças na construção de um quadro cultural único, sólido e positivo, compartilhando impressões, sentimentos, ideias.
Escrevi esse texto para todos que praticam o exercício da paciência ao ler minhas palavras, mas especialmente aos colegas que, como eu, dedicam algum tempo da sua vida resenhando e criticando o trabalho árduo dos outros (seja para dizer que gostou, seja para dizer que odiou o último livro que leu), e para lembrar que de vez em quando é válido observar o que nós mesmos temos produzido, dito, sentido, pensado, idealizado, realizado, etc.
O link para a coluna é: http://www.blogdacompanhia.com.br/2011/05/ainda-sobre-escritores-e-critica/#comments
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