Boas vindas

Seja bem-vindo, caro leitor/escritor. Ler faz bem à saúde - física e mental. Sabendo disso, obrigo-me a tomar cavalares doses diárias de leitura. Como tudo que é exagerado faz mal, preciso eliminar parte desse remédio para manter meu organismo saudável. Não há pâncreas que produza qualquer enzima capaz de catalizar a leitura, ou fígado capaz de ajudar a excretar o excesso. O melhor tratamento, descobri, é escrever. Crimine Liber, portanto, tem a nobre e terapêutica missão de aliviar a pressão provocada pelas doses de leitura, além de fazer despejar aquilo que meu organismo absorveu de melhor ou pior dos livros que li, tenho lido ou vou ler. Espero que você aprecie!!!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Dom do Crime



Cotação: §§§§
Livro: O Dom do Crime
Autor: Marco Lucchesi
Editora: Record

155 páginas






Não sou um estudioso das letras; longe disso. Sou um aspirante a escritor que gosta de ler. Não conheço os pilares da obra de Machado, tampouco sei avaliar tecnicamente cada um de seus romances, contos, crônicas... o que sei, ou melhor, o que gosto de fazer acerca dos livros que li é emitir opinião; apenas isso; procurando ser o mais simples e honesto possível.

Isso nada importa a quem, por lapso, termina nas páginas desse blog, eu bem sei. Mas é necessário escrevê-lo antes de abordar o grande romance sobre o qual me debrucei nas últimas semanas, porque O Dom do Crime não é um romance qualquer. É, antes, uma grande obra de um grande autor brasileiro, por quem o Bruxo certamente nutriria grande simpatia.

Não zarpei em pesquisas pela internet para descobrir se de fato o crime da Rua dos Barbonos aconteceu, em 06 de novembro de 1866. Sinceramente, isso pouco me importa. O que vale é a ‘audácia’ de Marco Lucchesi, que esculpe uma elaborada trama para relacionar o tal crime (narrado no livro) à obra mais famosa de Machado de Assis: Dom Casmurro.

Com inventividade elogiável, Lucchesi escreve pelas penas de um anônimo contemporâneo de Machado, que insiste em manter o anonimato e a quem, segundo o próprio autor, não se pode dar crédito. É precisamente esse jogo entre os autores (o da ficção e o da obra) e a ‘autoria’ que dá gosto ao romance.

Em forma de relato diário do julgamento de um crime que provocou comoção na Corte Imperial no final do século XIX, o autor (ou os autores) disseca não apenas o comportamento social da época, como também vai apresentando pontos comuns entre o crime e a história de Bentinho, Capitu e seus pares. E esses pontos são muitos e estreitos.

Mas isso também pouco importa, sua maior virtude é manter a dúvida imaculada, manter-se imparcial acerca do comportamento dúbio (será?) de Capitu ou de Helena Augusta (essa a vítima do crime ‘real’).

E vai extraindo trechos de obras, comparando, misturando, acrescentando tantas e tantas informações que ao final obras, autores, ficção, realidade estão tão condensados que se tornam uma única coisa.

Ressalte-se o tom irônico, beirando o cínico (do próprio autor), que impregna o texto com um humor refinado o qual somente grandes autores alcançam.

Eu, por mim, que como disse não sou estudioso ou entendido, mas gosto de emitir opinião, permaneço com a mesma: se o Bentinho é corno ou não, não sei dizer. Mas que ele merecia, merecia.

Marco Lucchesi é Imortal e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2011, na categoria romance de estréia com O Dom do Crime.