Cotação: §§§§
Livro: O Dom do Crime
Autor: Marco Lucchesi
Editora: Record
155 páginas
Não sou um estudioso das letras; longe disso. Sou um aspirante a escritor que gosta de ler. Não conheço os pilares da obra de Machado, tampouco sei avaliar tecnicamente cada um de seus romances, contos, crônicas... o que sei, ou melhor, o que gosto de fazer acerca dos livros que li é emitir opinião; apenas isso; procurando ser o mais simples e honesto possível.
Isso nada importa a quem, por lapso, termina nas páginas desse blog, eu bem sei. Mas é necessário escrevê-lo antes de abordar o grande romance sobre o qual me debrucei nas últimas semanas, porque O Dom do Crime não é um romance qualquer. É, antes, uma grande obra de um grande autor brasileiro, por quem o Bruxo certamente nutriria grande simpatia.
Não zarpei em pesquisas pela internet para descobrir se de fato o crime da Rua dos Barbonos aconteceu, em 06 de novembro de 1866. Sinceramente, isso pouco me importa. O que vale é a ‘audácia’ de Marco Lucchesi, que esculpe uma elaborada trama para relacionar o tal crime (narrado no livro) à obra mais famosa de Machado de Assis: Dom Casmurro.
Com inventividade elogiável, Lucchesi escreve pelas penas de um anônimo contemporâneo de Machado, que insiste em manter o anonimato e a quem, segundo o próprio autor, não se pode dar crédito. É precisamente esse jogo entre os autores (o da ficção e o da obra) e a ‘autoria’ que dá gosto ao romance.
Em forma de relato diário do julgamento de um crime que provocou comoção na Corte Imperial no final do século XIX, o autor (ou os autores) disseca não apenas o comportamento social da época, como também vai apresentando pontos comuns entre o crime e a história de Bentinho, Capitu e seus pares. E esses pontos são muitos e estreitos.
Mas isso também pouco importa, sua maior virtude é manter a dúvida imaculada, manter-se imparcial acerca do comportamento dúbio (será?) de Capitu ou de Helena Augusta (essa a vítima do crime ‘real’).
E vai extraindo trechos de obras, comparando, misturando, acrescentando tantas e tantas informações que ao final obras, autores, ficção, realidade estão tão condensados que se tornam uma única coisa.
Ressalte-se o tom irônico, beirando o cínico (do próprio autor), que impregna o texto com um humor refinado o qual somente grandes autores alcançam.
Eu, por mim, que como disse não sou estudioso ou entendido, mas gosto de emitir opinião, permaneço com a mesma: se o Bentinho é corno ou não, não sei dizer. Mas que ele merecia, merecia.
Marco Lucchesi é Imortal e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2011, na categoria romance de estréia com O Dom do Crime.
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