Boas vindas

Seja bem-vindo, caro leitor/escritor. Ler faz bem à saúde - física e mental. Sabendo disso, obrigo-me a tomar cavalares doses diárias de leitura. Como tudo que é exagerado faz mal, preciso eliminar parte desse remédio para manter meu organismo saudável. Não há pâncreas que produza qualquer enzima capaz de catalizar a leitura, ou fígado capaz de ajudar a excretar o excesso. O melhor tratamento, descobri, é escrever. Crimine Liber, portanto, tem a nobre e terapêutica missão de aliviar a pressão provocada pelas doses de leitura, além de fazer despejar aquilo que meu organismo absorveu de melhor ou pior dos livros que li, tenho lido ou vou ler. Espero que você aprecie!!!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Precisamos falar sobre o Kevin


Cotação: §§§§§
Livro: Precisamos falar sobre o Kevin
Autor: Lionel Shriver
Editora: Intrínseca
463 páginas

Comprei esse livro pela capa - a melhor de todas que enfeitam minha estante. E é por ela que começo, já que é mesmo pela capa que se começa a admirar um livro. A surpresa foi das maiores que tive até hoje. Nunca tinha ouvido falar da autora, tampouco, desse fantástico romance norte-americano, até entrar por acaso (por hábito, na verdade) numa livraria do Centro da cidade na hora do almoço.
Não se trata de um romance policial clássico, ou moderno. Pela sua forma e conteúdo se aproxima mais do drama. Mas como é bom! Se pelo formato e pelo conteúdo, a princípio, não podemos classificá-lo como policial, no âmago não existe nada mais atual e recorrente no cenário criminal dos Estados Unidos da América.
O livro conta a história de um rapaz que um dia, sabe-se lá porque, resolve promover uma chacina na escola em que estuda. Historinha comum? Nem tanto. Muitos aspectos transformam o livro numa pequena obra de arte contemporânea da literatura.
A história é contada pela mãe do assassino e sob seu ponto de vista. Dessa forma, a narradora apresenta ao leitor fatores aparentemente pouco relevantes que ocorreram muito antes do ‘rapazinho levado’ nascer e que, acredita sua mãe, contribuíram para o desfecho trágico.
Assim como o livro resenhado de ‘La Young’, o texto é apresentado em forma de cartas escritas pela Senhora Khatchadourian (uma americana de origem armênia) para o seu ex-marido, pai do encapetado. Assim, a sofrida mãe desfia uma teia incrivelmente complexa e real, apontando todas as milhares de pequenas falhas (familiares, sociais, culturais, psicológicas...) que ajudam a construir um ser humano diabólico.
O rapaz é um dos personagens mais bem elaborados da literatura e, como vilão, é mal, muito mal. Realmente muito mal. Talvez o mais perverso personagem já construído. E a chacina é de arrepiar. O final trágico é absurdamente surpreendente e tocante. Um livro que entrará, se já não entrou, para as muitas listas de melhores de todos os tempos mundo a fora.
Apenas como curiosidade, antes de ser publicado, esse romance foi rejeitado por diversos agentes literários e por mais de 30 editoras, talvez pelo tema polêmico, vá saber. No final a autora sorriu, sua obra transformou-se em best-seller e abiscoitou o prêmio Orange, na Grã-Bretanha, no ano de 2005.
E você, precisa ler.

Tudo que você não soube



Cotação: §§§
Livro: Tudo que você não soube
Autor: Fernanda Young
Editora: Ediouro
134 páginas

Esqueça o talk show. Esqueça ‘Os Normais’ e os outros programas cômicos de TV. Leia ‘Tudo que você não soube’. A autora tem a estranha mania de dizer que tudo de mais relevante que fez em sua carreira – na televisão – é menos importante do que sua obra literária. E esse pequeno romance é um indício de que ela fala a verdade.
A obra conta, em cartas escritas para o pai (não tão original assim) a história de uma personagem sem nome (não tão original assim), que massacra a própria mãe, a marteladas (não tão original assim). O que surpreende, no entanto, não é o contexto, mas o seu desenvolvimento. Apesar de grotesca e grave, a história é contada de maneira bastante ‘agradável’. É leitura fácil, suave – desculpe a repetição – apesar do tema.
Depois de viver tudo o que se pode imaginar, a protagonista, sabendo da iminente morte de seu pai, busca resolver todo o conflito pessoal com o ‘velho’ por meio de cartas, em que visita seu passado, sem buscar justificativas, apenas esclarecendo o seu ponto de vista.
A nota a ser destacada é uma dúvida que permanece até o final: O pai receberá e lerá as cartas? Para a protagonista não é isso que importa e sim a possibilidade inusitada e repentina de colocar tudo em pratos limpos. E Fernanda Young consegue construir isso com maestria.
Vale a pena gastar algumas horas do seu dia lendo essa história comovente e, ao final, concluir que a autora pode ter, sim, razão. É melhor escritora que entrevistadora.