Boas vindas

Seja bem-vindo, caro leitor/escritor. Ler faz bem à saúde - física e mental. Sabendo disso, obrigo-me a tomar cavalares doses diárias de leitura. Como tudo que é exagerado faz mal, preciso eliminar parte desse remédio para manter meu organismo saudável. Não há pâncreas que produza qualquer enzima capaz de catalizar a leitura, ou fígado capaz de ajudar a excretar o excesso. O melhor tratamento, descobri, é escrever. Crimine Liber, portanto, tem a nobre e terapêutica missão de aliviar a pressão provocada pelas doses de leitura, além de fazer despejar aquilo que meu organismo absorveu de melhor ou pior dos livros que li, tenho lido ou vou ler. Espero que você aprecie!!!

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Homem Magro



Cotação: §§§§
Livro: O Homem Magro
Autor: Dashiell Hammett
Editora: Companhia das Letras

260 páginas

Você não precisa conhecer a fundo a história de Samuel Dashiell Hammett (1894-1961) para se interessar por seus livros. Basta saber que foi casado por trinta anos com Lillian Hellman (escritora e dramaturga estadunidense), serviu na Primeira Grande Guerra e dentre as algumas atividades que ocuparam sua vida peculiar, trabalhou como detetive particular em uma renomada agência de Nova Iorque. Ou seja, tinha muitas histórias interessantes para contar.
Resolveu, então, começar a escrever romances policiais e dentre algumas de suas pérolas literárias está O Falcão Maltês. Noir como poucos, seus livros são recheados de humor refinado e personagens fantásticos.
Nesse saboroso ‘O Homem Magro’ de 1933 o autor carrega o leitor até o universo conturbado, clandestino e de baixa auto-estima da Nova Iorque do período pós-crise de 29 e o brinda com o invejável (sob quase todos os aspectos) casal Nick e Nora Charles: Ele, um brilhante ex-detetive que deixou a profissão depois de se casar com ela, herdeira de uma fortuna.
Em visita à ‘cidade que nunca dorme’ para as festividades de fim de ano o ex-detetive se vê envolvido em uma história do desaparecimento de um velho conhecido e da morte de sua secretária. Evitando maiores contatos com o caso, Nick é empurrado pela força das circunstâncias.
Segue-se uma trama de mistérios em que os personagens surpreendentes vão se apresentando, desde o tenente durão da polícia de Nova Iorque, até os piores escroques. Outras mortes vão acontecendo e tudo leva a crer que, cada cadáver tem a importante missão de ocultar a morte que a antecedeu.
Por se tratar de um romance escrito há cerca de oitenta anos o leitor pode pensar que se trata de um livro datado, o que não é verdade. Além do clima instigante da cidade numa época bastante singular, o autor trata de temas absolutamente atuais como relacionamentos fora do padrão, comportamentos inescrupulosos, violência policial, e por aí vai. Tudo com muita leveza e a dose certa de humor.
Destaque para o espirituoso casal protagonista (daqueles personagens que jamais podem ser esquecidos) que a todo o momento está servido de algum drinque e para a objetividade do texto. A cidade, mesmo em seus pontos obscuros, é pintada com cores charmosas e também pode ser considerada uma personagem importante da trama muito bem articulada.
Do autor, mais uma curiosidade, participava de um grupo de intelectuais formado por gente não menos interessante como Ernest Hemingway, John dos Passos e Arthur Miller que se uniu, dentre outras coisa, no combate ao nazismo.
Quem já leu Hammett entende o que estou falando. Quem nunca leu deveria correr até o padre e se confessar. A penitência não será das mais pesadas, provavelmente alguns padre-nossos, algumas ave-marias e a leitura obrigatória de ‘O homem Magro’, para entrar no Reino dos Céus.