Boas vindas

Seja bem-vindo, caro leitor/escritor. Ler faz bem à saúde - física e mental. Sabendo disso, obrigo-me a tomar cavalares doses diárias de leitura. Como tudo que é exagerado faz mal, preciso eliminar parte desse remédio para manter meu organismo saudável. Não há pâncreas que produza qualquer enzima capaz de catalizar a leitura, ou fígado capaz de ajudar a excretar o excesso. O melhor tratamento, descobri, é escrever. Crimine Liber, portanto, tem a nobre e terapêutica missão de aliviar a pressão provocada pelas doses de leitura, além de fazer despejar aquilo que meu organismo absorveu de melhor ou pior dos livros que li, tenho lido ou vou ler. Espero que você aprecie!!!

sábado, 19 de março de 2011

Em Risco



Cotação: §§§
Livro: Em Risco
Autor: Patrícia Cornwell
Editora: Companhia das Letras
146 páginas


O que mais me surpreendeu nesse bom romance da dama do crime norte-americana, não foi bem a trama, que, aliás, não é má, mas sim alguns dos personagens. O detetive blasé Win Garano, a Promotora Monique Lamont e principalmente a avó do detetive, a bruxa boa Nana. Todos têm personalidade suficiente para fazer o livro merecer ser lido.
A leitura é rápida e muito agradável, um livro para ser lido na praia, ou no metrô. O léxico simples – e aqui bato palmas para o tradutor Rafael Mantovani também – aproxima o leitor da história que se passa em ao menos duas cidades diferentes – Boston e Knoxville, no estado do Tennesse.
Por iniciativa da promotora Lamont o governador do estado de Massachusetts põe em prática uma nova política de combate ao crime que chamam ‘Em Risco’, coordenada pela própria promotora, com o lema: ‘Qualquer crime, Ontem, hoje ou amanhã’, que pretende solucionar casos do passado valendo-se das mais modernas tecnologias de investigação.
Trata-se de uma jogada notoriamente política já que tanto o governador, quanto a promotora pretendem concorrer ao cargo do primeiro nas eleições que se aproximam. Cada um tentando passar a perna no outro. Lamont, muito espertinha, chama para integrar sua equipe o mais competente dos investigadores de Boston, Win Garano, que no momento está sentado nas cadeiras da Academia Forense Nacional, na cidade de Knoxville.
Não por acaso o crime escolhido para dar início à nova política ocorreu na cidade do Sul onde Garano está freqüentando o curso. O desenrolar da história, contudo, sai do controle de todos, e revelam as verdadeiras intenções daqueles que se achavam manipuladores, mas se descobrem marionetes, culminando num crime aviltante em que a própria promotora é vítima.
Há um leve clima noir, bastante agradável e a cadeia de acontecimentos é bem amarradinha, mas alguns clichês – como o detetive irresistível, soluções de caso pelo indefectível DNA, etc – se não chegam a comprometer o romance ao menos deixam a certeza de que, na realidade esses avanços tecnológicos são uma pedra no sapato dos escritores, que não conseguem se livrar de algumas marcas do passado – o detetive comedor, mas têm que se adaptar aos novos tempos – o famigerado exame de DNA.
Por fim, de positivo ainda vale destacar que o livro é narrado no presente, o que achei muito interessante e o distancia do lugar comum.
O conselho, então, é o seguinte: Se você vai sozinho (a) à praia, se você pega o metrô para ir para o trabalho, se você gosta de deitar numa rede sem pegar no sono, esse livro é uma boa companhia.

A Forma da Água




Cotação: §§§§
Livro: A Forma da Água
Autor: Andrea Camilleri
Editora: Record – Coleção Negra
141 páginas


Se imaginássemos uma reunião do sindicato dos detetives particulares e investigadores célebres de romances policiais, entre Poirot, Holmes, Maigret e Espinoza, certamente lá estaria também o sarcástico e inteligente comissário Montalbano apreciando um belo prato de frutos do mar.

Andrea Camilleri, seu criador é atualmente, se não o maior, um dos maiores sucessos literários da Itália e seu personagem, sem dúvida, um dos mais instigantes e charmosos investigadores de romances policiais que já ganharam as páginas de um livro. Nesse ‘A Forma da Água’, o personagem ganha vida (é o romance em que surge o comissário) numa trama muito bem engendrada e ao mesmo tempo simples – o que se demonstra com o desenvolvimento do livro.

Tudo começa quando dois lixeiros encontram o cadáver de um eminente cidadão de sua cidade dentro de seu carro, abandonado em um lugarejo afastado frequentado por prostitutas e drogados. Assustados, fazem contato com o amigo mais próximo do sujeito, um importante advogado, que parece não se importar com o fato e ordena que a dupla informe sua descoberta a polícia, aí o célebre comissário entra em cena.

A investigação é bastante controversa, já que aparentemente a morte tem causa natural, mas o que vai se apresentando é uma complexa cadeia de interesses políticos e segredos privados escusos dos cidadãos mais importantes da pequena cidade siciliana. Apoiado nas descobertas do seu principal personagem, o autor pode despejar sobre o papel todas as convicções, desilusões e desencantos que guarda a respeito de sua cidade natal e da própria Sicília.

Vale destaque, ainda, o grande valor que o autor dá à gastronomia, e os pratos devorados pelo comissário são um espetáculo à parte, enchem o leitor de curiosidades que transcendem a pura literatura. A nota negativa fica por conta da tradução e revisão, que deixaram escapar alguns erros tolos, mas não contaminam a belíssima obra de Camilleri.

A minha sugestão, portanto, é que você prepare um bom espaguete com frutos do mar, sirva uma taça de vinho branco para acompanhar esse romance delicioso.