Boas vindas

Seja bem-vindo, caro leitor/escritor. Ler faz bem à saúde - física e mental. Sabendo disso, obrigo-me a tomar cavalares doses diárias de leitura. Como tudo que é exagerado faz mal, preciso eliminar parte desse remédio para manter meu organismo saudável. Não há pâncreas que produza qualquer enzima capaz de catalizar a leitura, ou fígado capaz de ajudar a excretar o excesso. O melhor tratamento, descobri, é escrever. Crimine Liber, portanto, tem a nobre e terapêutica missão de aliviar a pressão provocada pelas doses de leitura, além de fazer despejar aquilo que meu organismo absorveu de melhor ou pior dos livros que li, tenho lido ou vou ler. Espero que você aprecie!!!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Seminarista



Cotação: §§§§
Livro: O Seminarista
Autor: Rubem Fonseca
Editora: Agir
178 páginas


Falando em estar bem com a própria consciência de leitor, tenho minhas penas a pagar por culpa de Rubem Fonseca. Dos seus 25 livros estimo ter lido algo em torno de 10 ou 12, o que me descredencia por completo, caso tente buscar o título de maior fã de literatura policial do país. Comecei a pagar parte da sanção no início do ano, quando li ‘O Seminarista’. Longe ser uma punição, ler seus romances é um deleite.

Nesse, o escritor conta a história de um matador profissional e ex-seminarista que decide ‘pendurar a pistola’. Antes, no entanto, deve fazer um último serviço. Claro, tudo dá errado e ele se vê no meio de uma inacreditável teia de assassinatos movidos por interesses os mais escusos. Muito dinheiro, muito sangue, uma boa dose de sexo, fazem dessa obra uma diversão da qual não se consegue desprender.

O ponto a ser destacado é a escrita concisa e o léxico simples. Mesmo escrevendo as maiores barbaridades que se possa imaginar Rubem Fonseca é de uma elegância inigualável. Além da diversão, portanto, é uma aula de como atingir o leitor, sem soar grosseiro, sem causar constrangimentos. Coisa cada vez mais rara.

No que os novos, e alguns antigos, escritores falham, Rubem Fonseca acerta em cheio. É simples, e por isso mesmo, brilhante.

O Dia do Chacal



Cotação: §§§§§
Livro: O Dia do Chacal
Autor: Frederick Forsyth
Editora: Record
367 páginas

Ninguém escreveu sobre espionagem como Frederick Forsyth. Nenhuma conspiração, nenhum conluio, nenhuma trama - tenha sido ela real, ou fictícia - foi mais complexa e ao mesmo tempo mais coesa ou verossímil que os enredos criados por ele. Na minha opinião, ‘O Dia do Chacal’ é a melhor de todas.

O Livro é forte, explícito, fantástico e, embora possa parecer datado, será sempre atual e inovador. Ainda que as crianças e adolescentes de hoje não saibam quem foi Charles De Gaulle, ou não convivam mais com os temores da Guerra Fria, a não ser raramente nas telas de cinemas.

As referências históricas são claras e o enredo se desenvolve num ritmo tão intenso que o leitor parece acompanhar o ‘Chacal’ – um invencível assassino contratado por uma organização golpista para assassinar o presidente De Gaulle - pelas ruas de uma Europa menos brilhante e charmosa que a usual imagem deixada por outros romances de espionagem.

Estão lá todos os ingredientes necessários: disfarces perfeitos, conluios políticos, assaltos mirabolantes e personagens que marcaram para sempre o gênero. É leitura obrigatória, caso você queira se sentir bem com sua consciência de leitor inveterado de romances policiais ou histórias de espionagem. Foi o que aconteceu comigo.

Os Limites da Lei


Cotação: §§§§
Livro: Os Limites da Lei
Autor: Scott Turow
Editora: Record
236 páginas

Scott Turow é o cara! Considerado por muitos o maior escritor de thriller jurídico da atualidade, 'O Cara' lançou alguns dos mais consagrados best sellers do gênero que, assim como algumas das obras do já resenhado John Grisham, ganharam as telas de cinema, em sua maioria para dar vida a bons filmes. É sempre mais prazeroso, entretanto, ler seus livros.

Os Limites da Lei é uma novela policial que foi publicada semanalmente na revista dominical do New York Times, no curso do ano de 2006. Compilados os capítulos, virou um excelente romance, com todas as características dos romances anteriores do autor. Muito suspense, um mundo de aparências que se descobre apodrecido, personagens fascinantes e uma trama bem amarrada até o fim. Marca registrada do autor, qualquer personagem pode ser culpado, até virarmos a última página.

Outra característica interessante deste livro é o reaparecimento de alguns de seus personagens mais célebres como o Juiz George Mason e o antigo promotor, aqui Juiz, Rusty Sabich.

Mason, é confrontado com seu passado quando assume o julgamento de um estupro promovido por quatro jovens ricos, na Corte de Apelações. No decorrer do julgamento o Magistrado passa a ser ameaçado, mas em nenhum momento consegue identificar o autor das mensagens e  cartas ameaçadoras. Ele deve levar o julgamento até o fim e lidar com o medo de talvez estar enfrentando seu mais perigoso inimigo.

O livro é ágil, característica facilitada pelo formato em que o texto foi inicialmente redigido, mas repleto de boas referências jurídicas. Tem um clima sombrio e prende o leitor a cada capítulo, já que a cada semana uma nova trama estampava as páginas do NYT.

Não é a obra definitiva do autor, mas ao ser comparada com outras, ganha destaque pelo modelo seguido. E como disse no início, é sempre mais prazeroso ler seus livros, do que esperar pela filmagem.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O RECURSO


Cotação: &&&&
Livro: O Recurso
Autor: John Grisham
Editora: Rocco
378 páginas

Atire a primeira pedra quem nunca assitiu ou leu 'O Dossie Pelicano', 'O Júri' ou 'O Cliente'. Atire a segunda quem não assisitu, ou leu, e gostou de 'A Firma'. São todas obras do escritor americano John Grisham. Isso você já sabia, claro. O que muita gente não sabe até hoje é que o romancista publicou, no já longínquo ano de 2008, um de seus livros mais polêmicos. Chama-se 'O Recurso'.

Em tom de denúncia, o especialista em thriller jurídico, narra a saga de um casal de advogados à beira da falência que empurra com esforço um oneroso processo contra uma gigantesca corporação de produtos químicos, goela abaixo do sistema judiciário americano - você já viu alguns filmes ou leu muitos livros com o  mesmo mote, mas garanto que todos eles são diferentes desse.

O processo, que pode render além da perda de milhões de dólares a derrocada da empresa, é, na verdade, pano de fundo para uma trama ainda mais intrigante: O obscuro universo das eleições para os cargos do Poder Judiciário.

John Grisham é advogado por formação e durante certo período de sua carreira jurídica ocupou cargos no legistativo. Dessa froma, brinca com ambiente legal, como uma criança brinca num parque de diversões. O resultado é um romance complexo, cheio de alternativas e aberto até o final, que aqui, pode ser diferente do bom e velho final feliz, ou não. Depende da sua perspectiva.

Boa leitura, especialmente para profissionais de Direito e estudantes, O Recurso é um romance que deixa um pergunta no ar: como hollywood ainda não filmou isso. Talvez porque, como mencionei antes, você já tenha visto muitos filmes com a mesma temática. O ideal, no entanto, seria voltar no tempo, apagar todos os outros da memória e começar por 'O Recurso'.

Espinosa sem saída


Cotação: &&&&&
Livro: Espinosa sem saída
Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza
Editora: Cia. das Letras
210 páginas

Luiz Alfredo Garcia-Roza é um mestre. Com pouco mais de uma década de carreira literária ficcional, o autor criou um padrão inconfundível que o eleva a essa condição, ao lado de outros autores brasileiros como Rubem Fonseca e Patrícia Melo. Ler seus livros é sempre um prazer. Já em sua estréia como autor de romances policiais (O silêncio da chuva) Garcia-Roza abiscoitou os prêmios Jabuti e Nestlé. Lendo seus romances é fácil compreender o porquê.

Sua narrativa é dinâmica e uniforme, e seus personagens são carregados de dúvidas e inquietações que o aproximam do leitor. Não à toa. Garcia-Roza é um consagrado psicanalista.

Em Espinosa sem saída, na opinião desse blogueiro, o autor chega ao ponto ideal de maturidade de uma carreira que, esperamos, seja muito longa. O já histórico pesonagem Delegado Espinoza se encontra literalmente numa rua sem saída, quando se depara com um cirme aparentemente simples. Um mendigo morto em uma rua de Copacabana. De tão simples, o caso pode ser classificado como daqueles que, numa grande cidade, qualquer policial arquivaria. Não há testemunhas, pouquíssimas provas, ninguém reinvidica o morto.

O célebre Espinoza, no entanto, não vê razão para deixar passar em branco a morte do indigente. Outro crime acontece e, surpreendentemente, parece ter alguma ligação com a primeira morte. A partir daí uma teia psicológia é lançada sobre o leitor, que a abraça de bom grado.

Os complexos e recônditos caminhos da mente humana vão se mostrando cada vez mais profundos, capazes de revelar sentimentos que impulsionam o mais comum e inocente dos homens aos lugares mais inesperados. Ai o autor se revela um grande guia, carregando o leitor por essas estradas ocultas.

É leitura obrigatória para os amantes de romances policiais, especialmente pela oportunidade de acompanhar em tempo real o surgimento de um gênio literário.

LADRÃO DE CADÁVERES



Cotação: &&&&
Livro: Ladrão de Cadáveres
Autora: Patrícia Melo
Editora: Rocco
204 páginas

O oitavo romance da consagrada escritora e roteirista brasileira, Patrícia Melo, muda o tom. A própria autora, em recente reportagem ao 'Entrelinhas', classificou o romance como ficção, buscando retirar da garrafa o rótulo de 'romance policial'. Concordo com ela. Embora sujo de sangue (como todos os seus livros), Ladrão de Cadáveres é um romance paranóico de excelente cepa, mas não tem os elementos clássicos de um romance policial. Nem por isso, possui menos qualidades que seus anteriores sete romances.

A história se passa em Corumbá, Mato Grosso do Sul, onde o protagonista (sem nome) vive uma vida tediosa até presenciar um acidente aéreo que muda completamente o rumo de sua vida. Ao tentar, sem sucesso, resgatar o único tripulante do monomotor o protagonista vê nascer uma chance de dar uma guinada definitiva e termina por se enrolar em uma teia complexa de mentira, extorsão e paranóia, muito bem amarrada.

O clima sufocante da cidade do oeste - sempre quente e úmida - é vivido pelo leitor que parece reconhecer cada canto da cidade, bem como reconhecer em cada um dos personagens os traços comuns de pessoas comuns. É freqüente a sensação de já ter ouvido falar naquela história, ou em alguém que se encaixe em algum dos perfis criados. Esse é o grande trunfo da autora, sua obra é tão verossímil que a impressão que se tem é que se está acompanhando uma notícia de jornal.

É uma leitura agradável, que prende o leitor e o surpreende a cada página. Vale cada minuto.